domingo, 13 de novembro de 2011

Moby Dick (parte III)

Ao lado do banco, a janela. A janela é lugar privilegiado dentro do organismo metálico móvel.
Da janela você vê o mundo lá fora. Sabe o que está acontecendo fora do casulo, da mini-colmeia. Além disso, sentar na janela (por que o popular 'senta na janela' e o letrado 'senta-se à janela') na maioria das vezes significa ter mais espaço (por não ter ninguém ainda sentado naquele par de bancos), ter mais vento (no verão), controle da ventilação (em caso de vento o chuva, você tem o controle do 'abrir' e 'fechar' da janela), e principalmente um lado para encostar a cabeça para quando quiser dormir.
          Na janela passa o filme de maior duração e reprodução da história: a vida cotidiana. Nessa televisão futurística, onde podemos romper a barreira do vidro e mergulhar no 'programa', assistimos a todos os gêneros televisivos e cinematográficos. Comédias relâmpago, por um tropeção ou estabaco de um pedestre desajeitado, filmes de ação do tipo policial (bem comuns nos dias atuais), romances mil com namorados, amantes e apaixonados esperando no ponto, trocando olhares ou se beijando numa esquina. Filmes de terror com estradas escuras e relâmpagos de gelar a alma, e aventuras como as da corrida do gari  para o caminhão de lixo em movimento e a fuga do camelô evitando o rapa. Canais esportivos, com malabaristas, jogadores de futebol e pipeiros estão lá. Resta a quem está no corredor, aguardar a pessoa da sua janela sair ou outra próxima vagar. É por isso que os idosos sentam-se nos primeiros bancos, mesmo com janelas vagas ao fundo. Sua capacidade visual para encontrar janelas é reduzida, então procuram lugares mais próximos para ter de andar menos e evitar um tombo quando o ônibus se debate. Ou isso ou ao lado da saída, caso o trajeto seja muito próximo ou o ônibus lote muito, caso contrário teria que se esgueirar pela selva de corpos do corredor para poder ir embora.



(Termina na quarta e última parte, PROMETO!)

2 comentários:

impressões emoções e sensações disse...

Você é um belo escritor!com uma imensurável perspicácia da condição humana.nao pare de escrever... Reúna sua crônicas , reative seu blog ... Saiba que nos acrescenta muito... Bjs

impressões emoções e sensações disse...

Com tanta coisa boa que escreve, quem sabe não poderemos publicar seu primeiro livro? Nao abra mão de compartilhar toda essa sua riqueza interior .. Bj