Despreocupado, sem medo das rajadas de vento, sem medo da velha grade que servia de proteção quando era mais novo, mas que agora se tornou enfeite, dispositivo obsoleto em conter a curiosidade e a inquietude desta criança que gosta muito de super-heróis que voam, aviões de papel, e todo o tipo de coisas que têm desprezo pela lei da gravidade. Já sonhara algumas vezes com seus amigos o chamando lá embaixo para jogar bola, e ele se jogava da janela, caindo em pé, sem se machucar, para encurtar o caminho. Sonhos recorrentes... Voar com Peter Pan, olhar a cidade lá de cima com uma donzela no colo como Clark Kent faria, dar loopings no ar pilotando o tapete do Alladin...
O tempo está bom lá fora. Uma brisa acaricia seu corpo como um amigo que lhe dá a mão para subir um degrau mais alto. Os pombos da cidade passam perto da janela, fazendo curvas e movimentos de aterrissagem. O cartucho do jogo de aviões do Super Nintendo ainda está quente, recém jogado. A empregada escuta Leandro e Leonardo no rádio, e está terminando de torcer as últimas peças de roupa, enquanto o menino se sente cada vez mais leve, olhando a distância entre ele e o chão. É como se voasse parado, como se flutuasse. Não sente o peso de seu corpo. Olha para os prédios vizinhos imaginando-se decolando e imitando os pombos, visitando cada hora uma cobertura, uma janela, um aparelho de ar-condicionado.
Um momento de distração da empregada, uma visão fugaz... Algo cai pela janela. O barulho do impacto com o solo ecoa no vão que fora utilizado como caminho para o encontro com o chão. Um barulho desagradável, barulho de destruição, um barulho que não gera bom pressentimento à doméstica, que agora larga o que está fazendo e se dirige para a sala, onde tem uma visão diferente do que é acostumada. Duas linhas marrons dançam no ar, gêmeas, embaladas pelo sabor do vento. Elas são um pouco mais grossas que macarrão, mas brilham. O sol reflete em suas curvas e o brilho fica percorrendo o corpo daquelas linhas marrons metálicas... Algo que ela demora a reconhecer e quando consegue sua cara muda rapidamente a fisionomia, de estranheza e curiosidade para terror, horror, espanto. Corre para a janela, olha para baixo. Lá ao fim da linha jaz inerte, imóvel, aos pedaços... Sua fita preferida do Zezé de Camargo e Luciano.
Um comentário:
Não esperava outra atitude desse menino!!
Força no blog mlk!! Vc ainda vai voar muito alto
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